quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

5... 4... 3... 2... 1...

A pouco menos de uma hora do final de 2009, recordo que há precisamente um ano estava eu e uma mão cheia de amigos nas montanhas de Skeikampen, perto do povoado de Lillehammer, na Noruega, numa jantarada iluminada pelo calor da lareira, enquanto os -14C do exterior se adivinhavam difíceis de suportar quando chegasse o momento de rebentar a garrafa e brindar ao novo ano - que daqui a pouco termina.

Hoje a festa é em casa, junto de quem mais importa. As cornetas já estão a ser testadas lá dentro e a máquina fotográfica impõe-se como utensílio indispensável para, como diz o reclame, mais tarde recordar...

2009 merece, antes disso, um balanço positivo. Familiares e bons amigos deram o nó, bébés, muitos bébés chegaram no bico da cegonha para nos encher a casa de fotografias lindas, e embora a situação global não tenha estado propriamente favorável a grandes aventuras, também este ano agendei aquela que se prevê ser uma das minhas maiores viagens de sempre: Perú! Pionés incontornável no mapa mundo que aqui tenho em frente...

Conto que 2010 seja um ano de grandes e boas mudanças... Será que deixando por escrito se concretizam mais depressa??? De uma maneira ou de outra, venha ele!

domingo, 27 de dezembro de 2009

"Sou ateu, graças a Deus!"

Há uns dias passei pelo cinema para ver um filme por mim algo antecipado - "Ágora", do realizador Alejandro Amenabar (também autor dos títulos Mar Adentro e The Others, para referir alguns).

Tratando-se de uma película claramente do "meu género", como outros depois rapidamente anuíram, o filme conseguiu, ainda assim, ser melhor do que esperava. Rachel Weisz (justamente oscarizada em O Fiel Jardineiro) oferece mais um desempenho excelente e a história, baseada em factos da vida de Hipátia de Alexandria (matemática e filósofa neoplatónica) reavivou duas ou três questões que, desde antes desse tempo e provavelmente para sempre, dividirão opiniões de forma mais ou menos acesa: a religião, o poder e a condição da Mulher.



Alguém um dia disse, em jeito de brincadeira (ou não) "Sou ateu, graças a Deus!" e não podia estar mais certo. As atrocidades e as injustiças historicamente documentadas que, hoje mesmo, continuam a dividir pessoas, povos, nações inteiras, estão no filme bem retratadas (até de forma gráfica). E no fim, tudo não passa de uma questão de poder. Quantos mais somos, mais força temos. Quem não está connosco, está contra nós. E quem não acredita ou defende o mesmo, não merece partilhar espaço comum.

Para Hipátia de Alexandria, uma mulher tremendamente à frente do seu tempo, não ver além do pensamento lógico teve consequências graves. A sua inconveniência reiterada valeu-lhe o rótulo de bruxa e castigo "a preceito". Mas pensando bem, de então para cá, pouco mudou. Não se despe, apedreja, arrasta pela rua ou queima na fogueira quem decide manter-se fora de esquemas hipócritos, mas permite-se tempo de antena global a "artistas" como Bento XVI, que em pleno século XXI, transmite ao mundo pérolas de Razão e de Sabedoria como as constantes na sua mais recente Mensagem de Natal.



"Fiel ao mandato do seu Fundador, a Igreja é solidária com aqueles que são atingidos pelas calamidades naturais e pela pobreza, mesmo nas sociedades opulentas. Frente ao êxodo de quantos emigram da sua terra e são arremessados para longe pela fome, a intolerância ou a degradação ambiental, a Igreja é uma presença que chama ao acolhimento. Numa palavra, a Igreja anuncia por toda a parte o Evangelho de Cristo, apesar das perseguições, as discriminações, os ataques e a indiferença, por vezes hostil, mas que lhe consentem de partilhar a sorte do seu Mestre e Senhor."

Aahh, realmente, assim tudo fica mais justificado e aceitável... Fala o Vaticano, antítese última da opulência, na pessoa de Sua Eminência, o Papa, personificação perfeita da solidariedade para com os desgraçados (que não calçam Prada). Eis senão quando esta personagem é derrubada por uma "lunática". A filmagem passa repetidamente em múltiplos canais de televisão e confesso, ri-me sozinha. De facto, nos tempos que correm, insolências assim fazem apetecer uma de duas coisas: desatar à gargalhada e desvalorizar ou saltar-lhe para os paramentos e apertar-lhe o pescoço. Terá o acto ficado a meio da intenção?

Festa que é festa é com o "casal bomba"

Acho que é justo partilhar que nunca fui admiradora entusiástica de casamentos. A azáfama dos preparativos, o enfado do cerimonial, o convívio conpulsório com desconhecidos que em ocasiões "normais" não chegaríamos a saber que partilham a crosta terrestre connosco, o longo rol de rituais e etiquetas que somos levados a achar "divertidos"... E a prenda? O que é que lhes damos de prenda?

Seja como for, quando uma determinada idade chega - apercebo-me eu agora - passa a ser comum a convocatória para eventos do tipo. Familiares, amigos, até simples acompanhantes que não se atrevem a enfrentar tal circunstância sozinhos decidem fazer a chamada fuga para a frente e batem-nos à porta, com um envelope onde automaticamente vemos selado o nosso destino para "o" dia. E que longo dia é.

Bonita perspectiva. Quadradona? Desmancha-prazeres? Melhor ainda, encalhada?!?!

Ora, desde há um ano, mais coisa menos coisa, que partilhei dos desejos e ansiedades de uma noiva que, precisamente ontem, celebrou o fim da sua "vida em pecado" - não deixou de lembrar o padre, face ao quotidiano íntimo já partilhado com o agora marido - numa comemoração que, pasmem-se as almas, veio amenizar minha perspectiva sobre o tema. Já lá chego.

Antes disso, fora com as ilusões. Levantar de madrugada, deixando o quentinho aconchegante da cama, para cumprir com a agenda de penteados e pinturas faciais é, at the very least, tortuoso. Mas em dias como o de ontem, é o que, inexoravelmente, acontece. E podia terminar por ali, mas não. Depois da produção "cinematográfica" (esta com os devidos direitos de autor), vem a colocação desajeitada da farpela previamente deixada de parte e a saída, já em pressa. Destino: a igreja, onde chegamos atrasados porque nem à terceira foi possível dar com o sítio. Uma vez lá, apercebemo-nos rapidamente que fomos dos primeiros e eis que outro pensamento cliché nos assalta: "Ao menos não fui a última... Mas da maneira que isto está por compôr, não se almoça tão cedo...".

Passadas as leituras, o coro - sim, houve gospel - e a troca de votos, a chegada à quinta onde é servida a refeição de dia inteiro marca os primeiros cocktails e simultaneamente, o preâmbulo da parte engraçada do programa: as bebedeiras de caixão à cova, as figuras ridículas na pista de dança (ao som de indispensáveis êxitos de outros tempos) e os amassos imprevisíveis que, no dia seguinte, só os mais sóbrios recordam, mas não divulgam.

Tornando uma história longa um pouco mais curta - o casamento de ontem, teve tudo isto e alguns extras - as empadinhas de algas, o tornedó SEM queijo (só para mim) e a cascata de chocolate amargo foram, na minha opinião, surpresas genuinamente apreciadas. Afinal Deus existe. E chama-se Rita!

Mas regressando ao que importa, o certo é que este foi o primeiro e único casamento a que assisti no qual TODA a gente se divertiu e isso fez a diferença. As avós e as tias, mais ou menos brancas mas todas velhinhas, dançaram freneticamente "Sex Bomb", o amigo vindo de Itália saiu do baile com a camisa encharcada e os sapatos pendurados no ombro pelo atacador, os primos conheceram "jeitosas" a quem oferecer os malmequeres arrancados às floreiras e eu, anteriormente incrédula, percebi então o porquê do nome "casal bomba" para a dupla principal e o justificativo para ajuntamentos do género.

Muito obrigado pela partilha, Rita e João. Continuem tal e qual, estão em grande!