A pouco menos de uma hora do final de 2009, recordo que há precisamente um ano estava eu e uma mão cheia de amigos nas montanhas de Skeikampen, perto do povoado de Lillehammer, na Noruega, numa jantarada iluminada pelo calor da lareira, enquanto os -14C do exterior se adivinhavam difíceis de suportar quando chegasse o momento de rebentar a garrafa e brindar ao novo ano - que daqui a pouco termina.
Hoje a festa é em casa, junto de quem mais importa. As cornetas já estão a ser testadas lá dentro e a máquina fotográfica impõe-se como utensílio indispensável para, como diz o reclame, mais tarde recordar...
2009 merece, antes disso, um balanço positivo. Familiares e bons amigos deram o nó, bébés, muitos bébés chegaram no bico da cegonha para nos encher a casa de fotografias lindas, e embora a situação global não tenha estado propriamente favorável a grandes aventuras, também este ano agendei aquela que se prevê ser uma das minhas maiores viagens de sempre: Perú! Pionés incontornável no mapa mundo que aqui tenho em frente...
Conto que 2010 seja um ano de grandes e boas mudanças... Será que deixando por escrito se concretizam mais depressa??? De uma maneira ou de outra, venha ele!
"Porquê?" diz a mãe de todas as perguntas e aqui não é excepção... Porque foi assim que surgiu em mim, sem pretexto nem ambição. Porque nem tudo precisa de explicação. Acima de tudo, porque ALGUMA COISA pode surgir DO NADA. Até um blogue!
quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
domingo, 27 de dezembro de 2009
"Sou ateu, graças a Deus!"
Há uns dias passei pelo cinema para ver um filme por mim algo antecipado - "Ágora", do realizador Alejandro Amenabar (também autor dos títulos Mar Adentro e The Others, para referir alguns).
Tratando-se de uma película claramente do "meu género", como outros depois rapidamente anuíram, o filme conseguiu, ainda assim, ser melhor do que esperava. Rachel Weisz (justamente oscarizada em O Fiel Jardineiro) oferece mais um desempenho excelente e a história, baseada em factos da vida de Hipátia de Alexandria (matemática e filósofa neoplatónica) reavivou duas ou três questões que, desde antes desse tempo e provavelmente para sempre, dividirão opiniões de forma mais ou menos acesa: a religião, o poder e a condição da Mulher.

Alguém um dia disse, em jeito de brincadeira (ou não) "Sou ateu, graças a Deus!" e não podia estar mais certo. As atrocidades e as injustiças historicamente documentadas que, hoje mesmo, continuam a dividir pessoas, povos, nações inteiras, estão no filme bem retratadas (até de forma gráfica). E no fim, tudo não passa de uma questão de poder. Quantos mais somos, mais força temos. Quem não está connosco, está contra nós. E quem não acredita ou defende o mesmo, não merece partilhar espaço comum.
Para Hipátia de Alexandria, uma mulher tremendamente à frente do seu tempo, não ver além do pensamento lógico teve consequências graves. A sua inconveniência reiterada valeu-lhe o rótulo de bruxa e castigo "a preceito". Mas pensando bem, de então para cá, pouco mudou. Não se despe, apedreja, arrasta pela rua ou queima na fogueira quem decide manter-se fora de esquemas hipócritos, mas permite-se tempo de antena global a "artistas" como Bento XVI, que em pleno século XXI, transmite ao mundo pérolas de Razão e de Sabedoria como as constantes na sua mais recente Mensagem de Natal.

"Fiel ao mandato do seu Fundador, a Igreja é solidária com aqueles que são atingidos pelas calamidades naturais e pela pobreza, mesmo nas sociedades opulentas. Frente ao êxodo de quantos emigram da sua terra e são arremessados para longe pela fome, a intolerância ou a degradação ambiental, a Igreja é uma presença que chama ao acolhimento. Numa palavra, a Igreja anuncia por toda a parte o Evangelho de Cristo, apesar das perseguições, as discriminações, os ataques e a indiferença, por vezes hostil, mas que lhe consentem de partilhar a sorte do seu Mestre e Senhor."
Aahh, realmente, assim tudo fica mais justificado e aceitável... Fala o Vaticano, antítese última da opulência, na pessoa de Sua Eminência, o Papa, personificação perfeita da solidariedade para com os desgraçados (que não calçam Prada). Eis senão quando esta personagem é derrubada por uma "lunática". A filmagem passa repetidamente em múltiplos canais de televisão e confesso, ri-me sozinha. De facto, nos tempos que correm, insolências assim fazem apetecer uma de duas coisas: desatar à gargalhada e desvalorizar ou saltar-lhe para os paramentos e apertar-lhe o pescoço. Terá o acto ficado a meio da intenção?
Tratando-se de uma película claramente do "meu género", como outros depois rapidamente anuíram, o filme conseguiu, ainda assim, ser melhor do que esperava. Rachel Weisz (justamente oscarizada em O Fiel Jardineiro) oferece mais um desempenho excelente e a história, baseada em factos da vida de Hipátia de Alexandria (matemática e filósofa neoplatónica) reavivou duas ou três questões que, desde antes desse tempo e provavelmente para sempre, dividirão opiniões de forma mais ou menos acesa: a religião, o poder e a condição da Mulher.

Alguém um dia disse, em jeito de brincadeira (ou não) "Sou ateu, graças a Deus!" e não podia estar mais certo. As atrocidades e as injustiças historicamente documentadas que, hoje mesmo, continuam a dividir pessoas, povos, nações inteiras, estão no filme bem retratadas (até de forma gráfica). E no fim, tudo não passa de uma questão de poder. Quantos mais somos, mais força temos. Quem não está connosco, está contra nós. E quem não acredita ou defende o mesmo, não merece partilhar espaço comum.
Para Hipátia de Alexandria, uma mulher tremendamente à frente do seu tempo, não ver além do pensamento lógico teve consequências graves. A sua inconveniência reiterada valeu-lhe o rótulo de bruxa e castigo "a preceito". Mas pensando bem, de então para cá, pouco mudou. Não se despe, apedreja, arrasta pela rua ou queima na fogueira quem decide manter-se fora de esquemas hipócritos, mas permite-se tempo de antena global a "artistas" como Bento XVI, que em pleno século XXI, transmite ao mundo pérolas de Razão e de Sabedoria como as constantes na sua mais recente Mensagem de Natal.

"Fiel ao mandato do seu Fundador, a Igreja é solidária com aqueles que são atingidos pelas calamidades naturais e pela pobreza, mesmo nas sociedades opulentas. Frente ao êxodo de quantos emigram da sua terra e são arremessados para longe pela fome, a intolerância ou a degradação ambiental, a Igreja é uma presença que chama ao acolhimento. Numa palavra, a Igreja anuncia por toda a parte o Evangelho de Cristo, apesar das perseguições, as discriminações, os ataques e a indiferença, por vezes hostil, mas que lhe consentem de partilhar a sorte do seu Mestre e Senhor."
Aahh, realmente, assim tudo fica mais justificado e aceitável... Fala o Vaticano, antítese última da opulência, na pessoa de Sua Eminência, o Papa, personificação perfeita da solidariedade para com os desgraçados (que não calçam Prada). Eis senão quando esta personagem é derrubada por uma "lunática". A filmagem passa repetidamente em múltiplos canais de televisão e confesso, ri-me sozinha. De facto, nos tempos que correm, insolências assim fazem apetecer uma de duas coisas: desatar à gargalhada e desvalorizar ou saltar-lhe para os paramentos e apertar-lhe o pescoço. Terá o acto ficado a meio da intenção?
Festa que é festa é com o "casal bomba"
Acho que é justo partilhar que nunca fui admiradora entusiástica de casamentos. A azáfama dos preparativos, o enfado do cerimonial, o convívio conpulsório com desconhecidos que em ocasiões "normais" não chegaríamos a saber que partilham a crosta terrestre connosco, o longo rol de rituais e etiquetas que somos levados a achar "divertidos"... E a prenda? O que é que lhes damos de prenda?
Seja como for, quando uma determinada idade chega - apercebo-me eu agora - passa a ser comum a convocatória para eventos do tipo. Familiares, amigos, até simples acompanhantes que não se atrevem a enfrentar tal circunstância sozinhos decidem fazer a chamada fuga para a frente e batem-nos à porta, com um envelope onde automaticamente vemos selado o nosso destino para "o" dia. E que longo dia é.
Bonita perspectiva. Quadradona? Desmancha-prazeres? Melhor ainda, encalhada?!?!
Ora, desde há um ano, mais coisa menos coisa, que partilhei dos desejos e ansiedades de uma noiva que, precisamente ontem, celebrou o fim da sua "vida em pecado" - não deixou de lembrar o padre, face ao quotidiano íntimo já partilhado com o agora marido - numa comemoração que, pasmem-se as almas, veio amenizar minha perspectiva sobre o tema. Já lá chego.
Antes disso, fora com as ilusões. Levantar de madrugada, deixando o quentinho aconchegante da cama, para cumprir com a agenda de penteados e pinturas faciais é, at the very least, tortuoso. Mas em dias como o de ontem, é o que, inexoravelmente, acontece. E podia terminar por ali, mas não. Depois da produção "cinematográfica" (esta com os devidos direitos de autor), vem a colocação desajeitada da farpela previamente deixada de parte e a saída, já em pressa. Destino: a igreja, onde chegamos atrasados porque nem à terceira foi possível dar com o sítio. Uma vez lá, apercebemo-nos rapidamente que fomos dos primeiros e eis que outro pensamento cliché nos assalta: "Ao menos não fui a última... Mas da maneira que isto está por compôr, não se almoça tão cedo...".
Passadas as leituras, o coro - sim, houve gospel - e a troca de votos, a chegada à quinta onde é servida a refeição de dia inteiro marca os primeiros cocktails e simultaneamente, o preâmbulo da parte engraçada do programa: as bebedeiras de caixão à cova, as figuras ridículas na pista de dança (ao som de indispensáveis êxitos de outros tempos) e os amassos imprevisíveis que, no dia seguinte, só os mais sóbrios recordam, mas não divulgam.
Tornando uma história longa um pouco mais curta - o casamento de ontem, teve tudo isto e alguns extras - as empadinhas de algas, o tornedó SEM queijo (só para mim) e a cascata de chocolate amargo foram, na minha opinião, surpresas genuinamente apreciadas. Afinal Deus existe. E chama-se Rita!
Mas regressando ao que importa, o certo é que este foi o primeiro e único casamento a que assisti no qual TODA a gente se divertiu e isso fez a diferença. As avós e as tias, mais ou menos brancas mas todas velhinhas, dançaram freneticamente "Sex Bomb", o amigo vindo de Itália saiu do baile com a camisa encharcada e os sapatos pendurados no ombro pelo atacador, os primos conheceram "jeitosas" a quem oferecer os malmequeres arrancados às floreiras e eu, anteriormente incrédula, percebi então o porquê do nome "casal bomba" para a dupla principal e o justificativo para ajuntamentos do género.
Muito obrigado pela partilha, Rita e João. Continuem tal e qual, estão em grande!
Seja como for, quando uma determinada idade chega - apercebo-me eu agora - passa a ser comum a convocatória para eventos do tipo. Familiares, amigos, até simples acompanhantes que não se atrevem a enfrentar tal circunstância sozinhos decidem fazer a chamada fuga para a frente e batem-nos à porta, com um envelope onde automaticamente vemos selado o nosso destino para "o" dia. E que longo dia é.
Bonita perspectiva. Quadradona? Desmancha-prazeres? Melhor ainda, encalhada?!?!
Ora, desde há um ano, mais coisa menos coisa, que partilhei dos desejos e ansiedades de uma noiva que, precisamente ontem, celebrou o fim da sua "vida em pecado" - não deixou de lembrar o padre, face ao quotidiano íntimo já partilhado com o agora marido - numa comemoração que, pasmem-se as almas, veio amenizar minha perspectiva sobre o tema. Já lá chego.
Antes disso, fora com as ilusões. Levantar de madrugada, deixando o quentinho aconchegante da cama, para cumprir com a agenda de penteados e pinturas faciais é, at the very least, tortuoso. Mas em dias como o de ontem, é o que, inexoravelmente, acontece. E podia terminar por ali, mas não. Depois da produção "cinematográfica" (esta com os devidos direitos de autor), vem a colocação desajeitada da farpela previamente deixada de parte e a saída, já em pressa. Destino: a igreja, onde chegamos atrasados porque nem à terceira foi possível dar com o sítio. Uma vez lá, apercebemo-nos rapidamente que fomos dos primeiros e eis que outro pensamento cliché nos assalta: "Ao menos não fui a última... Mas da maneira que isto está por compôr, não se almoça tão cedo...".
Passadas as leituras, o coro - sim, houve gospel - e a troca de votos, a chegada à quinta onde é servida a refeição de dia inteiro marca os primeiros cocktails e simultaneamente, o preâmbulo da parte engraçada do programa: as bebedeiras de caixão à cova, as figuras ridículas na pista de dança (ao som de indispensáveis êxitos de outros tempos) e os amassos imprevisíveis que, no dia seguinte, só os mais sóbrios recordam, mas não divulgam.
Tornando uma história longa um pouco mais curta - o casamento de ontem, teve tudo isto e alguns extras - as empadinhas de algas, o tornedó SEM queijo (só para mim) e a cascata de chocolate amargo foram, na minha opinião, surpresas genuinamente apreciadas. Afinal Deus existe. E chama-se Rita!
Mas regressando ao que importa, o certo é que este foi o primeiro e único casamento a que assisti no qual TODA a gente se divertiu e isso fez a diferença. As avós e as tias, mais ou menos brancas mas todas velhinhas, dançaram freneticamente "Sex Bomb", o amigo vindo de Itália saiu do baile com a camisa encharcada e os sapatos pendurados no ombro pelo atacador, os primos conheceram "jeitosas" a quem oferecer os malmequeres arrancados às floreiras e eu, anteriormente incrédula, percebi então o porquê do nome "casal bomba" para a dupla principal e o justificativo para ajuntamentos do género.
Muito obrigado pela partilha, Rita e João. Continuem tal e qual, estão em grande!
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