terça-feira, 26 de outubro de 2010

As escolhas dos adultos

Será que sou só eu a achar giro o último anúncio ao Renault Clio TCE 100 CV? O enredo não podia ser mais básico mas a subtileza da mensagem final captou-me a atenção.

Ali estão os papás e seus respectivos pópós à espera das crias que, entretanto, ouvem o toque e se precipitam para fora da escolinha, correndo na direcção dos progenitores com a energia própria das crianças. Recepção com sorrisos e braços abertos, tal e qual cenário familiar idílico. Apenas um dos papás continua sozinho. O único com um carro branco, por sinal. Curva-se ligeiramente na direcção da criança que aparece em último, pela mão da que se percebe rapidamente ser a professora do grupo, mas eis que o miúdo segue o seu caminho e o suposto pai ergue o tronco, satisfeito, para abraçar longamente a rapariga, dizendo aos restantes papás (sem abrir a boca) que quem ri por último ri melhor. "O bom de ser adulto? É que podemos fazer as nossas próprias escolhas", diz o voz off. Pois foi esta a frase que me ficou a ecoar na cabeça.

Confesso que às vezes já tenho pensado se não seria mais simples não ter hipótese de escolha. Assimilar as coisas tal e qual como elas nos são apresentadas e pronto. Afinal de contas, para quê ser adulto se depois as escolhas são tão limitadas? Levantar o rabo da cama antes de tempo e chegar a boa hora ao trabalho ou acordar com o despertador e levar com mais meia hora de trânsito (isto nos dias bons)? Entre as duas venha o Diabo e escolha. Transportar comer de casa e fazer a refeição à secretária, sem tirar a vista de cima da porcaria do ecrã do computador, ou comer fora, dar um empurrão aos níveis de gordura no sangue e gastar dinheiro que podia muito bem ser usado num infinito de outras formas? Inspirador... Qualquer um dos cenários. Ou mesmo em decisões mais graves. Ser firme e não permitir que histórias dignas de filmes de 5ª categoria façam parte das nossas relações com os outros ou render-se às evidências e simplesmente deixar andar?

Por este caminho podia aqui estar o resto da noite... E não posso. Daqui a pouco toca o despertador. O tal.

4 comentários:

Anónimo disse...

Observei este anúncio pela primeira vez num restaurante...com muito ruído de fundo, contudo fiquei com a nítida sensação que tinha captado a essência do dito anúncio. Comentei com um colega que também estava a observar o anúncio "Olha...saiu o brinde ao tipo do Renault".
Simples, divertido e eficaz...

Unknown disse...

Todas as pessoas aceitam que cada escolha que se faz tem uma determinada consequência. As escolhas não são limitadas(pelo menos na maior parte das vezes), o que é limitado é o conjunto das escolhas que não abalam significativamente o modo de vida de cada um de nós. Porquê seguir o exemplo de milhares de pessoas com a sua rotina de acordar cedo, meter-se no carro enfrentar longas filas de trânsito, and so on? Porquê não viver como um ermida? Está na hora de cumprir mais uma parte da rotina.

Quanto ao anúncio, está bem pensado!
Será que se comprar um clio vem uma professora daquelas? =0P

Annouk disse...

E eu a achar que estava a extremar os argumentos... De papa-km a ermida vai uma distância assinalável, não?

Recomendo que da próxima vez que contemplares adquirir rodas novas, dirijas a tua pergunta EM PRESENÇA à pessoa responsável pelo negócio... É que se conheces a história, sabes o que acontece quando questões como "o meu carro não faz o mesmo que o robô do anúncio" são tratadas por TELEFONE!!!

Annouk disse...

"Brinde", António?!? Cá em casa, quem abre o bolo e topa o "brinde" não se fica a rir =)