terça-feira, 16 de março de 2010

A importância de uns abdominais firmes

Como não gostar de Meryl Streep, é a pergunta que se impõe! Em "It's Complicated" tive a confirmação de que, ao contrário de outros actores da sua geração - como Robert De Niro ou Harrison Ford - Meryl Streep continua a gostar de fazer cinema e isso transparece de forma muito clara no grande ecrã.

Depois de "The Devil Wears Prada", "Mamma Mia!" e "Julie & Julia", a actriz volta a contagiar com o seu entusiasmo e brilho naturais, características a que já habituou o público e a que o público responde, película após película, com salas generosamente cheias.

Neste caso, o bom desempenho surge com o papel da dedicada Jane Adler, dona de uma patisserie, divorciada desde há dez anos de Jake (Alec Baldwin) e que inesperadamente se vê envolvida num romance tórrido com um homem casado: o ex-marido. Pelo meio, espaço para um breve encontro com Adam (Steve Martin), o tímido arquitecto responsável pelo plano de remodelação da casa de Jane e para a participação de Agness (Lake Bell), a muito mais nova esposa de Jake e detentora de uns abdominais de respeito, como se percebe logo pela cena inicial do filme.

Temos assim um casal divorciado transformado num casal em romance, o que invariavelmente nos alude à ideia de continuidade do amor mesmo após o fim do casamento. Mas sejamos francos: ainda que se trate de um filme, ou bem que se colocam os óculos cor-de-rosa e se entra na let's get it on mood, ou bem que se pensa em medicamentos de prescrição médica...

Nota positiva merecem as "crias" do filme, Lauren (Caitlin Fitzgerald), Gabby (Zoe Kazan) e Luke (Hunter Parrish), filhos de Jane e Jake, a que se junta o futuro genro, Harley (John Krasinski) que com meritória graça arrebata completamente o terceiro posto de protagonismo no filme.

P.S - A técnica de feitura de mini-croissants de chocolate mostrada por Jane a Adam a meio do filme deixou-me a olhar para o balde de pipocas com expressão algo atoleimada... Meryl, se me estás a ouvir, para quando um livro de receitas?


segunda-feira, 15 de março de 2010

Trinta anos: terreno sagrado?

Nem acredito que entrei nos 30! Não que seja difícil fazer as contas e capacitar que depois do 29 vem o 30, mas porque este é o aniversário que marca o início da que me dizem ser uma das melhores épocas da vida - tenha ela o tempo que tiver.

Ora, isto bem analisado daria pano para mangas... Mangas, pernas, costas e mais que fosse, já que normalmente quem está a viver o momento não se apercebe que realmente assim é a não ser mais tarde, e assim sendo, só me vou dar conta do quanto este período foi bom (se for) quando ele já tiver passado, o que é um pouco... tardio.

Supostamente, esta é a idade em que as infantilidades e inconsistências reminiscentes dos 20 se desvanecem para dar lugar a uma versão mais segura e descontraída de mim. Clarice Lispector, escritora brasileira de linha introspectiva, terá mesmo dito um dia que "fazer 30 anos é cair em terreno sagrado", o que soa a tremendamente tentador... A ver vamos.

Na minha ideia, se aos 30 já se fez o reconhecimento dos limites da ilha em que habitamos, já se sabe de que lado sopram os tufões e de que forma o náufrago (Wilsooooon!) se salva, está então na hora de partir para a autocartografia e começar a fazer algo que se veja, em vez de passar o tempo a sonhar com isso. Porque é exactamente assim que acontece: aos 20 somos escravos das ilusões; aos 60 somos prisioneiros do arrependimento. Só na meia-idade temos todos os sentidos a funcionar em conjunto para estarmos no pico das nossas faculdades - é agora ou nunca!

sexta-feira, 5 de março de 2010

Mais um à deriva

De acordo com um estudo conjunto de australianos e franceses, o B-9B, um icebergue com 2.500 km2 (sensivelmente o tamanho do Luxemburgo) separou-se do Glaciar Mertz, no território Antárctico australiano, após um segundo icebergue ter colidido contra ele, num evento que pode vir a afectar os padrões de circulação dos oceanos - notícia do passado dia 27 de Fevereiro.

O referido estudo, que entretanto fiquei saber remontar a 2007 - coincidiu com o Ano Polar Internacional - tem como objectivo (uma vez que ainda decorre) investigar a "língua" do Glaciar Mertz e a separação de icebergues da sua massa principal. Aprendi que desde há duas décadas que o glaciar apresenta uma fractura gigantesca e que uma segunda racha se desenvolveu no início do século XXI, do lado precisamente oposto ao da primeira. Perceber se ambas as fracturas eventualmente se encontrariam e quais os processos daí decorrentes era o objectivo principal da investigação, que agora prossegue com novas e infelizes directrizes.



Na sequência dos últimos desenvolvimentos, um dos cientistas ligados ao estudo veio a público afirmar que "o evento em si não está directamente relacionado com as alterações climáticas, mas está ligado aos processos naturais que estão a ocorrer naquela plataforma de gelo", o que, traduzindo por miúdos, significa que apesar de nove em cada dez pessoas do mundo não saber ou não se importar minimamente com o tema - sem gelo, a água salgada do oceano interrompe a oxigenação levada a cabo pela água doce, perturbando as correntes profundas que alimentam a vida na água -, tem culpa directa ou indirecta no caso.

Directa porque se não sabe ou ainda não se deu conta do que se está a passar, devia começar a prestar mais atenção e perceber de que forma pode minimizar a sua pegada no planeta em que habita. Indirecta porque os que sabem e acompanham o tema, preocupando-se com o papel que podem desempenhar para um futuro menos tóxico, ainda assim não têm força suficiente para combater governos e políticas a quem pouco importa se em 50 ou 100 anos existirá água potável ou ar limpo.

Em Agosto do ano passado tive a oportunidade de fazer um passeio pelo Briksdalsbreen, conhecido como Glaciar de Briksdal, sensivelmente a meio do território norueguês, e foi para mim muito assustador compreender à vista que em pouco tempo não existirá qualquer vestígio de glaciar para admirar. Desde o ano 2000 o gelo recuou mais de 230 metros, estando hoje na sua dimensão mais pequena desde 1200. Obviamente que, em termos de escala, as paisagens frias que aqui refiro não podem ser comparadas, mas mesmo a uma dimensão mais reduzida, como a que Briksdal ilustra, é impossível ficar indiferente.

quarta-feira, 3 de março de 2010

A melhor do momento

Conhecem a sensação de quando um momento nos marca de tal forma que, a partir daí, sempre que revivemos o local onde nos encontrávamos ou lembramos as pessoas com quem estávamos, a 'imagem' que então gravámos no 'disco duro' regressa imediata e fielmente? Como se determinados lugares - de espaço e tempo - ficassem para sempre colados na nossa memória não exactamente porque fixámos como eram, mas por aquilo que vivemos neles.

Pois desde há alguns dias que ando com isto em mente já que desde que ouvi "Empire State of Mind" de Jay-Z (essa verdadeira máquina de fazer milhões) e Alicia Keys (para meu gáudio, novamente ao piano) não consigo deixar de pensar o quanto este som decalca o que de mais marcante eu guardei de Nova Iorque - a gigantesca selva urbana onde qualquer sonho se pode tornar realidade.

É, em minha opinião, a melhor música do momento: ritmo, melodia, letra, tudo se combina para me emprestar um sorriso de cada vez que passa nas ondas hertzianas, o que nem é assim tão vulgar... Nos tempos que correm a mediocridade é tanta que quando surge algo que nos inspira e nos faz abanar a cadeira, até ficamos surpreendidos!

Dei-me inclusivamente ao trabalho de aceder ao YouTube para apreciar o vídeo oficial e de facto, até a preferência pela versão a preto e branco foi uma decisão inteligente: as ruas lavadas de fresco, as setas indicadoras de muitas direcções, as escadas de ferro no exterior dos edifícios, os fumos saídos do subsolo, as entradas do metro, os carrinhos ambulantes de venda de cachorros quentes, o amarelo e o xadrez dos taxis, a polícia, as bandeiras americanas, um infinito de luzes à noite e alguns dos edifícios mais emblemáticos, como a Brooklyn Bridge e o Empire State Building... Está tudo lá.

Com muita pena minha, não consigo partilhar aqui o vídeo - foi feita uma razia online que, a somar à minha ineficiência nestas questões, só me possibilita partilhar um link. Vejam, oiçam e 'curtam' em: http://www.youtube.com/watch?v=0UjsXo9l6I8

P.S - Bonito o pormenor do piano decorado...