sexta-feira, 5 de março de 2010

Mais um à deriva

De acordo com um estudo conjunto de australianos e franceses, o B-9B, um icebergue com 2.500 km2 (sensivelmente o tamanho do Luxemburgo) separou-se do Glaciar Mertz, no território Antárctico australiano, após um segundo icebergue ter colidido contra ele, num evento que pode vir a afectar os padrões de circulação dos oceanos - notícia do passado dia 27 de Fevereiro.

O referido estudo, que entretanto fiquei saber remontar a 2007 - coincidiu com o Ano Polar Internacional - tem como objectivo (uma vez que ainda decorre) investigar a "língua" do Glaciar Mertz e a separação de icebergues da sua massa principal. Aprendi que desde há duas décadas que o glaciar apresenta uma fractura gigantesca e que uma segunda racha se desenvolveu no início do século XXI, do lado precisamente oposto ao da primeira. Perceber se ambas as fracturas eventualmente se encontrariam e quais os processos daí decorrentes era o objectivo principal da investigação, que agora prossegue com novas e infelizes directrizes.



Na sequência dos últimos desenvolvimentos, um dos cientistas ligados ao estudo veio a público afirmar que "o evento em si não está directamente relacionado com as alterações climáticas, mas está ligado aos processos naturais que estão a ocorrer naquela plataforma de gelo", o que, traduzindo por miúdos, significa que apesar de nove em cada dez pessoas do mundo não saber ou não se importar minimamente com o tema - sem gelo, a água salgada do oceano interrompe a oxigenação levada a cabo pela água doce, perturbando as correntes profundas que alimentam a vida na água -, tem culpa directa ou indirecta no caso.

Directa porque se não sabe ou ainda não se deu conta do que se está a passar, devia começar a prestar mais atenção e perceber de que forma pode minimizar a sua pegada no planeta em que habita. Indirecta porque os que sabem e acompanham o tema, preocupando-se com o papel que podem desempenhar para um futuro menos tóxico, ainda assim não têm força suficiente para combater governos e políticas a quem pouco importa se em 50 ou 100 anos existirá água potável ou ar limpo.

Em Agosto do ano passado tive a oportunidade de fazer um passeio pelo Briksdalsbreen, conhecido como Glaciar de Briksdal, sensivelmente a meio do território norueguês, e foi para mim muito assustador compreender à vista que em pouco tempo não existirá qualquer vestígio de glaciar para admirar. Desde o ano 2000 o gelo recuou mais de 230 metros, estando hoje na sua dimensão mais pequena desde 1200. Obviamente que, em termos de escala, as paisagens frias que aqui refiro não podem ser comparadas, mas mesmo a uma dimensão mais reduzida, como a que Briksdal ilustra, é impossível ficar indiferente.

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