quarta-feira, 13 de julho de 2011

Talento e mais 10 mil horas

Falava-se de talento e de dedicação - concretamente em relação à disciplina piano - e eis que surgiu a pergunta. "Nunca ouviu falar da Teoria das 10 mil horas, Ana?". Desconhecia o tema, mas fui esclarecida. "A Teoria das 10 mil horas é a que preconiza que para se ser realmente bom em algo são necessárias 10 mil horas de treino aplicado, seja qual for a matéria." "Interessante", disse para os meus botões, "e como é que chegaram ao número redondo?".

Ao que parece, um tal de Malcolm Gladwell deu-se ao trabalho de analisar o percurso de alguns génios e figuras extremamente bem sucedidas - Bill Gates, Beatles, Amadeus Mozart, entre outros - e identificou um padrão nas suas histórias. Antes de comercializar o seu primeiro software, Bill Gates tinha tido 10 mil horas de prática em programação informática. Antes de serem o que chegaram a ser, os Beatles praticaram 10 mil horas em palcos como os de Hamburgo. Mozart tinha 10 mil horas de composições antes de produzir as suas maiores obras-primas. And so on, and so forth.


Dei-me ao trabalho de fazer a matemática e resulta que 10 mil horas de foco numa matéria equivalem a 416,6 dias ininterruptos, ou seja, mais 51,6 dias do que um ano inteiro sem fazer absolutamente mais nada. Nem dormir. Nem comer. Nem xixi. Nem cócó. No cálculo de Gladwell, as 10 mil horas são frequentemente distribuídas por 10 anos, o mesmo que cerca de 20 horas de prática por semana ou três horas por dia.

Pois sim senhor. Talento só não basta, é preciso trabalhar no duro, conceder à massa cinzenta um tempo mínimo para que desenvolva destreza. A diferença nas progressões entre indivíduos reside na forma como uns parecem aproveitar melhor do que outros o tempo investido no treino...

Pergunta: trabalhar arduamente e não ter talento resultará no mesmo? Se sim, porque é que se fala tanto de sorte quando o tema é o sucesso?

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