terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Grandes mestres na Gulbenkian

Depois da mostra do ano passado, que estupidamente falhei não me recordo porque motivo, "A Perspectiva das Coisas. A Natureza-Morta na Europa, Segunda parte: Séculos XIX-XX (1840 - 1955)", recebida pelo Museu Calouste Gulbenkian, ocupou-me durante quase três horas no último fim de semana.

Arrebatada pelo Cézanne "Still Life With Apples" logo à entrada da galeria, percebi rapidamente que ia deixar o sítio com a mesma memória sensitiva que já tenho guardado dos museus de outras capitais europeias por onde tenho tido a sorte de passar: a de deslumbre hipnótico! Pelo domínio artístico dos criadores, pela expressividade das peças num tema aparentemente tão desinteressante, pela magia do jogo de cores, até a harmonia técnica dos materiais utilizados, algo que só se percebe quando temos diante de nós ORIGINAIS. E é tão raro que preciosidades destas venham a Lisboa!



Encontrei pinturas próximas dos ditos cânones clássicos, em resposta ao desafio de Plínio o 'Velho', e objectos onde a força e a vontade do insólito nos obrigam mesmo a pensar, pois contrariam tudo o que assumimos por "norma". Força esta que não deixa de ser também uma fraqueza destas obras, visto que se não estivessem em museus ou galerias de renome, provavelmente haveria quem não olharia duas vezes para elas... Mas isso são outros quinhentos! 

Van Gogh está em alta nesta exposição, com várias pinturas absolutamente fabulosas: logo à cabeça, "Blossoming Chestnut Branches", em frente do qual me sentei demoradamente, e "Still Life With Drawing Board, Pipe, Onions and Sealing-Wax", um dos meus preferidos.



Dalí também está representado, com "The Sense of Speed" e "The White Aphrodisiac Telephone", ambos inquietantes, desarmantes, diria até incomodativos, pois fazem-nos cair na armadilha das associações de ideias pouco vulgares. O gosto surrealista pela serenidade das paisagens infinitas, representativas do espaço interior, de um insconsciente também ele sem fim, que dá forma a coisas desconhecidas, guardadas no subsconsciente... Está lá tudo.


Magritte, o pintor do chapéu de côco e da maçã verde, com "The Portrait" lembra-nos muito insolitamente que um retrato não o é se não houver expressão e essa é sinónima de olhos. Que dizer de um olho único no centro de um prato de omolete? E da dimensão táctil de uma garrafa (cheia), de um copo (vazio) e de um par de talheres?


"Still Life Bouquet of Flowers", de Rousseau, chamou-me a atenção pela pretensa ingenuidade da captura e claro, pelo uso explosivo da cor, que lhe confere uma vitalidade contagiante. É impossível observar este quadro e não sentir a banalidade da dimensão do objecto face ao elemento natural, que tão famoso tornou o pintor, nomeadamente pelas obras que descrevem cenas da selva. 


Partilho da opinião do crítico que há semanas dizia na televisão que o artista é uma pessoa generosa porque se exprime, dá-se, revela-se e presta-se ao comentário, muitas vezes fruto da mera incompreensão. Não posso dizer, nem tenho a pretensão de achar, que compreendo tudo o que vi na Gulbenkian, mas o objectivo também nunca foi esse. E adorei.


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