terça-feira, 26 de junho de 2012

Inédito: âncora televisivo torna-se padre

Um dia gostava que alguém me explicasse como é que funciona o fenómeno que dá pelo nome de "chamamento". Já noutras ocasiões me deitei a pensar sobre o assunto, quer induzida por documentários televisivos improváveis, quer motivada por relatos pessoais de gente do meu conhecimento, mas nunca com a sensação conclusiva de esclarecimento lógico. Logo aqui, uma contradição intransponível, talvez.

Neste mesmo âmbito, li há momentos uma notícia surpreendente, sobre um âncora da CNN que ao fim de 34 anos de jornalismo televisivo decidiu ser padre e apesar da revelação - passível de leitura aqui http://religion.blogs.cnn.com/2012/06/26/my-faith-amid-cameras-and-countdowns-a-higher-calling/?hpt=hp_c3 - estar escrita de forma até bastante simpática e terrena, persisto sem conseguir digerir o facto de, um belo dia, alguém com uma meritória carreira de sucesso decidir dedicar-se à causa religiosa, como se tal fosse algo que desde sempre fizesse sentido mas só num determinado momento o zoom da câmara tivesse apontado nessa direcção.

Na minha maneira simplista de ver a matéria, quando gostamos de alguma coisa, sabemo-lo: ou por experiência comprovada - pessoalmente, o exemplo da massa recheada com espinafres e queijo (!!!) grana padano ilustra bem esta tese -, ou por algo menos terreno, mas que nos acompanha e, em última análise, torna únicos. Chamemos-lhes preferências, inclinações, apetites, química feronómica...

Ora, imaginar que de repente os fios das ideias se ligam no interior da nossa cabeça e dão lugar a um pensamento desta envergadura - responder ao "tal" chamamento superior e dedicar o resto do tempo de vida à causa -, parece-me não caber nem na categoria da pasta italiana nem na das hormonas, o que me deixa diante de um problema bicudo: a probabilidade séria de nunca chegar a perceber isto e ficar na ignorância. Meio intencional, meio ingénua.

A verdade é que, quanto mais leio e questiono o que é dito e feito em nome da fé, qualquer que ela seja, menos hipótese encontro de digerir o que motiva as pessoas que enveredam por esse caminho. Como se existisse um canal de comunicação especial só para eles e eu, obviamente, não fizesse parte da lista. Jesus nunca falou comigo. De Alá também nunca recebi chamada. Ou SMS, já agora. Tinha particular curiosidade em saber o que Buda me poderia ensinar se chocasse contra mim numa esquina mas é improvável que tal aconteça. Suponho que estar "em todo o lado" seja, de facto, bastante time consuming.

Voltando à vaca fria: de onde vem "a" ideia? Porque é que certas pessoas a alimentam e outras não? Será que depois da realização são mais felizes? Significa isso que até aí viviam inquietas? Mas se se trata de algo irracional, sem explicação aparente para a maioria, porque é aceite pelo homem dito "iluminado"? Demasiadas perguntas, demasiadas perguntas...

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