quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Que seria dos homens sem musas

Esteve em Londres, Barcelona, depois Paris e agora Roma - não se pode achar a vida de Woody Allen aborrecida! Com "To Rome With Love" o realizador volta ao grande ecrã (também como actor), misturando a melancolia revisionista de ícones dourados e tempos passados com turismo cultural, num filme com laivos de paródia em vários episódios de vida simultâneos.

Duas das histórias do filme retratam visitantes americanos, dois outros segmentos são sobre italianos mas nenhum se ocupa do tema amor no sentido romântico, como a localização da trama na capital do dolce far niente poderia fazer prever. Com efeito, a história mais substancial da fita envolve a comédia sexual protagonizada por Antonio e Milly, um casal ingénuo, recém-casado e chegado da província, que se vê envolvido com a insinuosa call girl interpretada por Penélope Cruz e uma estrela do cinema italiano ao estilo Felliniesco. Aqui, nota de destaque para a divertida banda sonora, pelo papel próprio na criação do ambiente atabalhoado e comprometedor que envolve o jovem casal.

Roberto Benigni, no papel de Leopoldo Pisanello, representa a sátira ao ridículo da celebridade, claramente explicada com a frase do chauffer "you're famous for being famous". Só isso explica que um homem de família, empregado indistinto num escritório, se veja alvo de adulação nacional, seguido e perseguido por paparazzi, sem razão aparente além da já descrita.


A minha personagem preferida acabou por ser a do arquitecto americano interpretado por Alec Baldwin, meio conselheiro meio grilinho falante, como se ele e o jovem idealista que conheceu em Trastevere, interpretado pela estrela de "The Social Network" se tratassem de uma só pessoa, em diferentes fases da vida.

Particular o facto de nenhuma das histórias decorrer no mesmo espaço temporal, algo que confere ao filme uma curiosidade surreal. A história do jovem casal "apanhado" na trama de amantes mais experientes decorre durante algumas horas apenas; a perseguição a Benigni acontece ao cabo de vários dias - note-se que o despertador do homem toca sempre às 07:00 -, enquanto que as duas sequências sobre os americanos podem muito bem acontecer durante várias semanas ou mesmo meses.

Em resumo: menos intelectualmente pretensioso do que "Midnight in Paris" mas claramente melhor do que "Vicky Cristina Barcelona" entertainment wise, o último avanço de Woody Allen não supera, mas convida.

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