sexta-feira, 16 de maio de 2014

Uma experiência social desconcertante - mais uma

Há dias fiquei algo estupefacta com um vídeo que andou a circular pelas redes sociais. Retratava a reacção que várias dezenas de pessoas demonstraram ao passarem na rua por um homem, vestido de vagabundo, que subitamente cai no chão. Geme, pede ajuda e ninguém reage em seu auxílio.

Perturbador o suficiente, certo? Errado. Acontece que o mesmíssimo "sem abrigo" aparece mais tarde vestido de fato, a simular sentir-se mal e a cair redondo no pavimento. Conseguem adivinhar a reacção de quem por ali caminhava naquele momento, por oposição à primeira encenação?

"The Importance of Appearences" (https://www.youtube.com/watch?v=SGPjUyVtTQw) foi o nome que deram à "experiência" social, com o objectivo de documentar o lado mais perverso do juízo humano. Devo confessar que, pessoalmente, o chocante nem foi que vários samaritanos rapidamente se tenham prontificado a socorrer o homem de fato; antes que vários dos transeuntes tenham chegado a parar junto do "vagabundo" (que se manteve prostrado durante mais de cinco minutos) e que, mesmo assim, tenham decidido não fazer absolutamente nada para ajudar.

Há uma mão cheia de anos, eu e o meu primo Pedro vimos um homem caído na estrada numa das ruas mais movimentadas da Baixa da Banheira e não pensámos duas vezes. Corremos. Uma vez junto dele percebemos que estava altamente embriagado e que, sem auxílio médico, não iria sair dali tão cedo. Mesmo ao lado, um pequeno grupo de observadores acompanhou o episódio e atirou comentários para o ar: «Está bêbado que nem um cacho, deixem-no estar que ele já se faz ao caminho», «Não é a primeira nem deve ser a última», «É chamar o pronto-socorro, eles que tratem dele».

A indiferença nas suas múltiplas manifestações é, cada vez mais, desconcertante para mim.

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