quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Do livro de versos de Henley

Com "Invictus", Clint Eastwood volta a marcar pontos na minha cine-consideração. O homem insiste em trazer-nos boas histórias e quantas mais vemos, mais certos ficamos de que voltaremos a ver. "Mystic River" (Sean Penn, Kevin Bacon, Tim Robbins, Lawrence Fishburne), "Million Dollar Baby" (Hilary Swank, Morgan Freeman), "Changeling"(Angelina Jolie), "Gran Torino" (com o próprio Clint em cabeça de cartaz)... E recuei apenas um par de anos.

Neste caso, a sequência de abertura dá o mote a todo o enredo: África do Sul nos anos imediatamente pós-apartheid; Nelson Mandela atravessa de carro uma estrada que divide dois campos - de um lado, um grupo de rapazes brancos, equipados como deve, praticam rugby na relva sob direcção do seu treinador; do outro, um grupo de negros tresmalhados corre de pé descalço num campo poeirento, sem postes nem linhas. O comentário do treinador à agitação dos rapazes que festejam a libertação de Mandela não se faz esperar, curto e grosso. Genial. Com menos de um minuto de filme Clint Eastwood apresenta toda a envolvente política necessária à compreensão de largos meses de acontecimentos.



Morgan Freeman e Matt Damon são as estrelas de "Invictus" mas é em Mandela 'Madiba' que ficamos a pensar quando a fita acaba. Vinte e sete anos de pena com base em acusações relacionadas com o seu activismo anti-apartheid. Dezoito dos quais passados entre trabalhos forçados e uma cela de Robben Island. O primeiro presidente sul-africano eleito em eleições democráticas, entenda-se, representativas. Prémio Nobel da Paz em 1993. Um homem cuja contribuição para a paz e a tolerância no mundo não tem homóloga e que, contudo, não consegue arrancar uma palavra de compaixão ou um sorriso à própria filha.

O que seguramente me vai ficar dos 133 minutos de filme não é a vitória sofrida dos Springbok, nem tão pouco a dança maori dos All Blacks, mas a mensagem do poema do escritor inglês William Ernest Henley, de que 'Madiba' se apropria para inspirar um capitão de equipa e toda uma nação.


"Invictus"

Out of the night that covers me,
Black as the pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.

In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.

Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds and shall find me unafraid.

It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll,
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul.

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