terça-feira, 15 de maio de 2012

Explicar o que não se explica, mas sente

Cerca de uma semana depois de o ter adquirido, estou praticamente a terminar a obra "Nunca se Perde uma Paixão - Histórias e Ensaios sobre o Amor", do psicólogo e psicanalista Eduardo Sá.

Redigido com base em histórias reais, recolhidas e adaptadas de consultas do médico, bem como de introspecções e experiências pessoais suas, o livro merece aqui o meu destaque porque responde de uma forma que achei bonita a algumas das perguntas fundamentais sobre o tema amor - desde sempre e, desconfio, para sempre, um dos mais complexos de se escrever sobre. Eis alguns excertos, de que gostei particularmente.

"Reconheço que quase ninguém gere a sua vida: surfa nela. Ou se preferir, é arrastado por ela. Na verdade, a maioria das pessoas sente, muito depressa, que fica encurralada em compromissos. Vive como se fosse morrendo, para a vida, todos os dias. E, pior, sente (em inúmeras circunstâncias) que dorme com o «inimigo». A maioria das pessoas sente que passou, cedo demais, das fantasias em torno da sexualidade, da adolescência, para a pré-reforma com a vida. Sem nunca namorar com ela. Como se muito cedo se tivesse tornado, para sempre, tarde demais. (...) É por tudo isto que eu acho que devia ser proibido casar com o primeiro namorado. E, já agora, casar para sempre. Se errar é aprender, porque é que há quem queira que acertemos nas relações amorosas à primeira? Como em tudo o que nos torna sábios, precisamos de errar para aprender. (...) Todas as relações morrem. Todas. Sobretudo as mais preciosas. Porque só a essas pessoas exigimos que nos deem, para sempre, os gestos e as palavras ao nível de tudo o que já deram. Ora, quando alguém nos dececiona, morre um bocadinho dentro de nós."

"Eu acho que a maioria das pessoas se sente infeliz porque, no fundo, sofre de tanto cultivar um amor sem objeto. Um amor à procura dum amante. Acho, mesmo, que a maioria das pessoas não é amável, todos os dias, porque vive - com uma culpa secreta - esses falhanços. Só não somos amáveis para os outros quando nos sentimos mal amados por quem amámos. Não sendo amáveis nunca seremos amantes, Amáveis no sentido de nos abrirmos, sem reservas, para o amor. E é por tudo isto, Alice, que sempre que chegamos a casa e sentimos que não temos ninguém à nossa espera, somos infelizes. Somos infelizes porque descobrimos, de surpresa, que não há ninguém que nos faça voltar para casa um pouco mais depressa."

"Quando nos apaixonamos, nunca é para sempre. Será - no mínimo! - para a eternidade. Mas, depois, quando damos por isso, desapaixonamo-nos. O que preocupa, de verdade, é esta sensação (desconfortável) das paixões nunca durarem para sempre. E que tenham um prazo de validade semelhante ao dos antibióticos."

"(...) E há, ainda, as pessoas que, depois dum grande amor, nunca ficam, unicamente, nossas amigas. Não sei como se chama a quem nem fica amigo nem amor. Não encontrar um nome que descreva alguém assim talvez queira dizer que essas pessoas ficam em todo o lado e em lugar nenhum. E, se bem me parece, é nisso que elas incomodam mais."


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