sexta-feira, 28 de setembro de 2012

O efeito JK Rowling

Estranhei ver tanta gente aglomerada junto à vedação do Southbank Centre e resolvi aproximar-me para ver do que se tratava. Do outro lado do passeio algo estreito, muitas pessoas espreitavam também de dentro dos seus escritórios envidraçados para a  pequena rua, onde um magnífico Mercedes de cor prata aguardava estacionado. À medida que fui caminhando na direcção do grupo, apercebi-me dos muitos fotógrafos e câmaras literalmente "armados" até aos dentes - agora estava realmente interessada... Não resisti! Meti conversa com um deles, francamente muito pouco excitado, e a curiosidade dissolveu-se de imediato.

JK Rowling - a própria - fez ontem ali o lançamento oficial de "The Casual Vacancy", o seu primeiro romance para adultos após a saga juvenil "Harry Potter". Considerado um sucesso de vendas instantâneo, o livro não parece reunir o consenso da pouca crítica a que foi cedido acesso literário prévio mas, sem dúvida, cativou o interesse pela forma como foi estrategicamente antecipado.

De acordo com um artigo do diário Evening Standart, inteligentemente titulado de "JK Rowling and the cloak of invisibility", que eu tinha lido de véspera durante mais uma viagem de overground, o evento de ontem representou o clímax do maior evento de publishing do ano, cuidadosamente orquestrado por uma equipa de relações públicas, agentes, editores e publicitários sob o olho atento do advogado e do agente literário da autora.

O frenesim começou em Fevereiro último, quando foi anunciado o lançamento da obra para Setembro. Daí em diante, um punhado seleccionado de jornalistas foi praticamente "alimentado" a conta-gotas com pequenos elementos informativos apenas suficientes para os manter curiosos - uma técnica apelidada de denial marketing por Minna Fry, directora da Bloomsbury, responsável pela publicação da saga que fez de JK Rowling uma senhora milionária.

Em Abril foi desvendado o título do livro e em Julho foi possível ter um vislumbre da capa. O passo seguinte da campanha foi escolher de entre as centenas de jornalistas que solicitaram entrevistar Rowling quais os mais interessantes para manter a máquina publicitária a funcionar suavemente, num limbo nem sempre fácil entre a protecção da privacidade da autora e a maximização das vendas da obra - lembre-se que a saga "Harry Potter" vendeu, até hoje, 450 milhões de exemplares...

Apenas duas entrevistas foram publicadas antes de ontem: uma no The New Yorker, com saída prevista para 1 de Outubro, embora já disponível online, e outra no The Guardian, impressa no passado Sábado. Ambos os jornalistas assinaram previamente acordos estritos de não divulgação e até as consultas ao original tiveram lugar nas instalações da editora, sem direito a notas. No caso do The Guardian, a entrevista presencial à autora começou no escritório desta, numa rua elegante de Edimburgo, e acabou com um pedido (negado) de aprovação de citações num hotel não nomeado da zona.

Houve quem brincasse, dizendo que foi necessário assinar mais papelada para este evento do que para a compra de uma casa, o que, por si só, reforça o secretismo em que "The Casual Vacancy" foi embrulhado. Enquanto que alguns dos lançamentos dos livros de "Harry Potter" coincidiram com as férias de Verão escolares, o evento de ontem reforça a determinação da editora em arrasar completamente alguns rivais deste Outono. Ian Rankin, autor do género crime e bestseller absoluto no Reino Unido, foi entretanto citado como tendo dito que a saída do seu mais recente livro está a ser empurrada para Novembro, de forma a "abrir caminho" para Rowling. Por sua vez, a Penguin contra-ataca e lança hoje "Fifteen Minute Meals", de Jamie Oliver, portanto, a corrida até ao Natal espera-se interessante de acompanhar.

E assim anda o mundo dos livros por esta banda.


 

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