quarta-feira, 4 de setembro de 2013

O detalhe como elemento crítico de sucesso e fracasso

Cena 1: Steve Jobs segue sozinho por um corredor, provavelmente em direcção ao anfiteatro no campus Apple, para mais uma palestra de sucesso onde revelará yet another inovação fora de série ao mundo, deitando abaixo pelo caminho servidores de blogues de tecnologia, pequenos e grandes.

A gola alta, os jeans fora de moda, o cabelo ralo, os óculos de aro e os ombros ossudos - está lá tudo. Mas acontece que não é Steve Jobs, antes Ashton Kutcher, no papel de. E aqui se encerra a melhor parte (e a menos boa) de "Jobs", o biopic realizado por Joshua Michael Stern.

Foi película que não me encheu as medidas. Arrisco dizer que o maior problema deste filme está no facto de não representar necessariamente nada de real, antes o tipo de imagem de Steve Jobs que as pessoas pretendem ver, quer pela representação da personalidade mercuriana do empresário, quer pela noção do custo de tamanha drive quando a inovação é uma obsessão constante.



Julgo ser um filme mais sobre a Apple do que sobre o homem que a fundou e isso não justifica o título. Para além disto, existem questões de solidez de argumento que simplesmente não colaram. Exemplo 1: Porquê um James Woods no início do filme, quando tenta que um Steve Jobs em fase hippie não desista da escola e se forme engenheiro ou artista? Exemplo 2: Afinal que sucede a Daniel Kottke, o amigo da viagem à India, da trip de ácido e da criação da Apple?!? Exemplo 3: Como se justifica que a filha que Jobs inicialmente se recusou a assumir, apareça mais tarde deitada no sofá da casa do pai (a par de um irmão e de uma nova mulher no papel de mãe), como se toda a sua existência tivesse acontecido por ali?

As colagens de Kutcher a Jobs, nomeadamente por via da linguagem corporal, transmitem uma valorosa procura do detalhe na personagem que infelizmente se traduz em falta de naturalidade, algo particularmente notório em cenas de maior intensidade emocional, como aquando da discussão do casal inicial sobre o bebé indesejado. Quem é que une os dedos das mãos com jeitinho quando lhe salta a tampa?!

Como um crítico inglês fez questão de avançar quando o filme estreou, "se Jobs fosse o produtor de Jobs teria despachado o filme de volta para o laboratório para um redesign".

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