domingo, 20 de outubro de 2013

Verdades ditas a brincar

Ia à espera de uma paródia familiar e foi exactamente isso que "A Gaiola Dourada" me proporcionou. Ruben Alves conseguiu levar à tela um filme honesto sobre estereótipos que reconhecemos como tipicamente nossos (portugueses) de forma divertida, e contudo, sem se deixar cair no banal.

Está lá tudo: a caixa de folha com biscoitos, os tremoços, a mini, os pastéis de bacalhau, o gaspacho, os tupperwares com enchidos - e isto só no departamento gastronómico! Amália omnipresente (ainda que desenhada a renda), "A Bola", o sofá forrado a plástico, Alcazar (perdão, Salazar), Quim Barreiros, as alcoveiteiras, o grelhador de rua, os brejeiros, as paisagens do Douro... Até o Pauleta aparece!

As interpretações cheias de sentimento de Rita Blanco (Maria) e de Joaquim de Almeida (José) dão corpo a dois emigrantes credíveis, trabalhadores incansáveis e, em certa medida resignados, que podiam perfeitamente ser muitos dos que se mudaram para França há duas gerações e todos os dias acalentam o sonho do regresso às origens.

Não me surpreende que esta fita, de vincada dimensão humana, tenha destronado alguns títulos de Hollywood tanto em Paris como em Lisboa nos últimos meses - a influência da nossa "marca" é obviamente sentida na cultura de ambos os países.


 

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